quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Goodnight, travel well

Abro os olhos, a porta do armário ainda está aberta. Tudo o que resta no cabide é o casaco que vou usar para ir à estação.
Não sei que horas são, mas o quarto ainda não se iluminou com a luz do sol. Deve ser cedo, bem cedo. Talvez ainda esteja de madrugada, não sei quanto durmi. Sento-me na cama devagar, apóio bem os pés no chão gelado, ergo a cabeça e respiro fundo. Olho para trás, e por alguns segundos fito o rosto que ainda dorme. Invejo sua tranquilidade. Volto a olhar para o chão, me levanto devagar, mas ainda assim sinto a cabeça girar.
Tento, em vão, desamassar a camisa. Dobro a barra da calça, estico as meias e calço o tênis. Caminho em direção ao armário e tiro o casaco do cabide com pesar. Reluto em vesti-lo, e opto por fazer isso quando já estiver fora de casa, como se fosse deixar tudo mais fácil.
Saio do quarto, fecho a porta com cuidado. Abro de novo, olho pro homem deitado na cama, me despedindo. Queria que as coisas fossem mais simples. Fecho a porta novamente, dessa vez, sem cuidado algum. Fico ali por alguns segundos, com alguma esperança que ainda haja tempo de voltar atrás.
Nada acontece. Desco as escadas, pego a mala, saio de casa. Na calçada visto o casaco e começo a andar até encontrar um táxi.
O táxi me deixa na porta da estação de trem, que está envolvida com a neblina da madrugada. Entro e vou direto ao guichê, vazio. Espero alguns minutos e compro minha passagem: primeira classe, para tentar fazer da despedida algo menos doloroso. Compro um café e me sento em uma das cadeiras de madeira envernizada que ocupam o grande salão de entrada. Ainda tenho uma hora antes de embarcar.
Não tenho nada para fazer, e aos poucos minha visão se subistitue pelas imagens das boas lembranças dos últimos meses. Isso me entristece, decido deixar as lembranças de lado. É impossível. Eu só queria que as coisas simplesmente dessem certo.
Como os dias felizes se transformam em dolorosas lembranças com tanta facilidade? Ontem eu ainda faria qualquer coisa para que o plano fosse perfeito. E, de repente, decidimos que o melhor seria eu voltar para casa, e deixar que os sonhos se transformassem numa aventura. Nao queria ter nos deixado escorrer por entre os dedos com essa facilidade, mas parece que continuar tentando seria estupidez.
Olho para o relógio da estação, está na hora. Vou com calma até o lixo me livrar do copo de café vazio, com ainda mais calma caminho em direção à plataforma. Se o trem partir sem mim, desisto de ir embora.
Embarco, encontro minha cabine e me sento. O trem vai partir, guardo minha bagagem. Tento encontrar uma boa posição para ficar, mas nada é confortável. Eu sinto falta de ter que dividir uma cama pequena, aqui tem espaço demais pra mim. Péssima a escolha que fiz, mas acho que não tem jeito nenhum de fazer eu me sentir melhor.
Levanto, saio, fecho a porta da cabine. Entro no vagão-restaurante sentindo pena ne mim mesma. Sento. Apóio a cabeça na mesa e olho as árvores passarem pela janela. Talvez essa não seja a coisa certa a fazer. Fico tentando imaginar como seria a vida se eu ficasse, como vai ser agora que eu parti, porque a decisão certa parece estar errada agora.
Tenho sede, peço uma água, jogo no copo cheio de gelo e fico brincando com as pedrinhas que flutuam. Um gole e apóio a cabeça no vidro. A paisagem muda, grandes campos de mato, só mato por todos os lados. Mais um gole, mais água no copo e coloco a cabeça e volta na janela.
O céu começa a clarear, o alaranjado mostra que já vai amanhecer. O sol surge no horizonte. Olho para ele sentindo algum conforto. Estou sozinha para assistir ao triste espetáculo, fecho os olhos pra preservar a visão. Eu devia me arrepender. Eu não me arrependo.

Um comentário:

Tchelo disse...

Lindo texto, Tatá!
Sériao!