quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Estrela cadente

O que são amigos senão desconhecidos que deram sorte de se conhecer bem? Esse homem e essa menina se conheceram um dia, um dia que ele estava muito bêbado para lembrar, e ela muito sóbria pra gostar dele.

Algum tempo depois, se conheceram de novo, e dessa vez, gostaram um do outro, e lembraram de conversar e dar algumas risadas a próxima vez que se viram.

Continuaram se vendo, pouco. Não eram muito amigos, eram bons conhecidos. Conversavam até que bastante, mas quase nunca tinham o prazer de se encontrar.

Até que uma noite dessas escuras e cheias de estrelas, eles se encontraram na casa de uma amiga. Tudo o que os três tinham era um livrinho de palavras cruzadas, mas acredito que nunca se divertiram tanto, com tão pouco. As horas passavam rápido demais para tudo o que eles ainda tinham pra viver aquela noite. O sono e o cansaço permitiram que, pela primeira vez, aqueles dois ficassem sozinhos. E ficaram acordados a noite toda, deitados na cama, lado a lado, com a luz apagada, contando a história de um certo homenzinho muito, muito pequeno. E assim passaram a madrugada, rindo, inventando histórias, fazendo jogos de perguntas, contando alguns dos maiores segredos de suas vidas, dividindo muitas das sensações e sentimentos que tiveram antes daquele momento.

O dia amanheceu, e tiveram que se encarar novamente. Não foi fácil fitar o rosto de quem, agora, sabia tanto sobre você. Mas fitaram os rostos um do outro, esconderam risadas e foram pra casa, cansados, com uma madrugada inesperada e cheia de segredos na memória.

Nos dias seguintes perceberam que se tornaram amigos de verdade. Se gostavam muito, e se conheciam bem. Imaginaram então que naquela noite, enquanto dividiam tudo de si, uma estrela cadente cruzou o céu, e fez com que se aproximassem tanto, tanto, que seus destinos acabaram selados, e a magia só se acabaria quando terminassem o que haviam começado naquela noite.

Dali em diante suas vidas pareceram correr em paralelo: o que acontecia pra um, acontecia pra outro. Era divertido, era único, era a prova de que aquela noite tinha valido a pena.

Até que um dia foram juntos ao teatro, e depois caminharam na Paulista, e se sentaram em frente à uma fonte. Sentaram perto para se proteger do vento, e começaram a imaginar e dividir ainda mais coisas, como sempre faziam.

Foi naquele fim de tarde, quase noite, que terminaram o que havia começado naquela madrugada. Aconteceu o que haviam previsto, suas vidas não eram mais a mesma. Mas, seria muito triste dizer que seus destinos haviam finalmente se separado... O mais adequado seria dizer que se tornaram dois dos melhores amigos que se pode encontrar, com os destinos ainda mais unidos, se é que se pode imaginar.